Cerca de 300 pessoas da comunidade cigana de Beja está concentrada numa área com cerca de meio hectare sem acesso a meios de higiene básicos teme o contágio por Covid-19.
Pior que a chuva, a lama e o frio no Inverno ou o calor e o pó no Verão. Pior que a falta de água, a ausência de condições de higiene e a partilha do espaço com cobras e ratos. Pior que tudo isto é o medo, o pânico que já se abateu sobre as famílias que habitam o bairro das Pedreiras em Beja, que antevêem a chegada do coronavírus às barracas e casas superpovoadas que formam a mais numerosa e concentrada comunidade cigana do país.
Nesta quarta-feira, as famílias ciganas recompunham com tábuas, toldos plásticos e todo o tipo de material que contribuísse para colocar de pé as barracas que sofreram danos causados pelo mau tempo que se registou em Beja no final da última semana. Mas no meio da azáfama, o medo que o vírus afecte os cerca de 800 adultos que vivem no bairro preenche todas as conversas e preocupações reveladoras do pânico que o “vírus desgraçado” está a provocar.
O problema maior reside na inexistência de condições que assegurem os actos de higiene que estão a ser aconselhados à população. Um factor elementar impede a sua prática: o acesso à água. Cerca de 300 pessoas que residem em barracas dispõem de uma única bica colocada a uma distância de 100 metros do aglomerado. “Os moços são lavados mas não conseguimos evitar que se sujem na terra”, descreve ao PÚBLICO, Ofélia Barão, 28 anos e mãe de três filhos, dando conta da impossibilidade em manter “tanta criança sossegada dentro das barracas, onde os colchões onde dormem alternam com o espaço onde fazem lume para fazer a comida, os utensílios de cozinha, roupas e cobertores, sem espaço para a intimidade e conforto mínimo.
A proximidade entre barracas merece-lhe um comentário: “Estamos nas casas uns dos outros”. Nestas condições, o isolamento social é uma impossibilidade que tem associado o receio do contágio.
“Estamos todos em casa por causa do vírus”, refere João Agostinho da Silva, conhecido por Xau. Diz que a comunidade reclama, há semanas, a desinfecção das casas (no bairro das Pedreiras existe um núcleo de barracas e outro em alvenaria) mas “ninguém responde”. Admitindo que os serviços municipais não tenham pessoas para a tarefa, a comunidade já se disponibilizou para o fazer. “Mas não sabemos como nem que coisas se podem utilizar para matar o vírus”, adianta
Notícia – Jornal Público