As lágrimas teimam em cair. Não param. Dizem que o tempo ajuda. Acredito que sim. Talvez por ser ainda pouco o tempo, a dor continua a apertar o coração de uma forma que não julguei ser possível. Mas chega de sofrimento. Para ti, para a Mulher guerreira e heróica que te acompanhou durante 55 anos. Acredito até que partiste também para lhe dar descanso. Porque também viste como nós o sofrimento dela. Até nisto foste nobre. Abdicaste de tudo para ela viver tal como ela o fez para te acompanhar durante a tua vida. Hoje recordo tudo. Desde aquelas noites em que, à falta de luz eléctrica, nos juntávamos à luz do candeeiro e contavas os teus contos, as tuas histórias e eu e o mano ficávamos embasbacados a olhar para ti e a imaginar tudo o que passaste desde miúdo, que com sete anos te tornaste pastor, até à passada semana em que jantamos uma última vez e partilhaste um sumo com o teu neto mais novo. Fogo… e as lágrimas não param… Se eu e o mano somos os homens que somos, a ti o devemos. A todos os sacrifícios que fizeste por nós. A tudo o que deixaste de fazer para o fazer por nós. Às refeições que deixaste de comer para nós o podermos fazer. Sim, nós sabemos disso, das vezes em que deixavas para nós a comida que a mãe te mandava. Tiveste uma vida de sofrimento mas também sei que feliz. Não recheada de bens materiais mas cheia de pessoas que te amaram e que tu amaste como só tu eras capaz. Sabes o que me alegra hoje? Saber que partiste em paz, no teu cantinho, junto daquela que te ama mais do que a própria vida. Fica a mágoa de não ter estado presente. Mas também sei que preferias assim. E, apesar de ser um lugar comum, sei que irás olhar pela mãe, pelas tuas netas e netos, por mim e pelo mano. Porque tu foste um homem bom. Tu és um homem bom. O melhor que conheci. As lágrimas irão parar um dia. Quando, não sei. Apenas sei que estás sempre comigo. Obrigado por tudo meu querido pai.

Opinião – José Francisco Encarnação