Armadilha invisível
Metade do mundo está em confinamento e o isolamento social é fundamental para combater a pandemia de covid-19, mas como fazê-lo quando se vive com um agressor? Como se proteger da ameaça que vem de uma das pessoas mais próximas? A quarentena é, para milhões de mulheres, uma armadilha invisível.
“Sabemos que os confinamentos são essenciais para suprimir a covid-19, mas podem encurralar as mulheres com parceiros abusivos”, escreveu no Twitter António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas. “Para muitas mulheres e raparigas, a ameaça é maior onde deviam estar mais seguras: nas suas próprias casas”, continuou, sublinhando em comunicado ser necessário um “aumento do investimento nos serviços online e das organizações da sociedade civil”. Que os governos “ponham a segurança das mulheres em primeiro lugar na resposta à pandemia”, pediu.
Os especialistas das Nações Unidas chamam à violência doméstica “a epidemia escondida” e as medidas de isolamento social vieram exacerbar as condições para a violência estrutural num espaço que deveria ser de segurança. Os números já eram assustadores antes da pandemia – 249 milhões de mulheres e raparigas dos 15 aos 49 anos foram vítimas de violência nos últimos 12 meses, diz a ONU – e subiram em tempos de confinamento.

Em Portugal
A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) já alertou para a possibilidade de, durante o período de isolamento devido à Covid-19, aumentar a violência doméstica. Por essa razão, a associação lançou uma nova campanha.

“Em tempos em que a contenção e isolamento sociais são imperativos, a APAV alerta para o possível aumento da violência doméstica, do cibercrime e de crimes contra o património”, avisou, pedindo às vítimas que prestem atenção aos sinais e que não fiquem em silêncio.
O Governo português anunciou, na semana passada, um aumento do número de camas disponíveis em abrigos para acolher vítimas de violência doméstica, assim como a criação de um endereço de e-mail (violência.covid@cig.gov.pt) específico para a receção de denúncias durante a pandemia.

Existe ainda a hipótese de as vítimas telefonarem ou enviarem uma mensagem gratuita para o número 3060, sendo que o registo desse contacto é confidencial e, portanto, não aparecerá nas faturas telefónicas.

O decreto do Governo português que especifica as medidas do estado de emergência devido à pandemia esclarece que é permitida a circulação de cidadãos que se desloquem para o “acolhimento de emergência de vítimas de violência doméstica ou tráfico de seres humanos, bem como de crianças e jovens em risco”.