A paranoia instalada pelo excesso de notícias, pelas fake news, pelo alarmismo criado, pelo desconhecimento, também estimulada por pessoas sem escrúpulos, por alguns empresários com ambições desmedidas, leva-nos a assistir nos últimos dias a situações que, em condições normais, seriam impossíveis de assistir.
Pessoas de bem, muitas das que conhecemos ou simples desconhecidos, lutam por um simples rolo de papel higiénico, por uma mera lata de atum, fazem filas sem fim junto às grandes superfícies, onde o ajuntamento a evitar se torna cada vez mais uma realidade, onde a distância a manter deixa de existir, onde o perigo de contágio aumenta exponencialmente quantos mais forem aqueles que, ao invés de respeitar as indicações dos experts, tomam o seu destino e os dos outros cada vez mais difícil e perigoso.
Infelizmente foi necessário aparecer este maldito vírus para que muitos de nós comecemos a dar importância a algo que estava há muito esquecido.
Refiro-me ao comércio local. As lojinhas da nossa rua, aquelas que têm tudo e nos parecia que nada tinham, aquelas cujos donos nos tratam pelo primeiro nome, que nos conhecem desde sempre, que estão ao alcance de um toque na sua porta para nos “desenrascarem” em qualquer coisa que precisemos, desde o pacote de sal, ao garrafão de água, à simples caixa de fósforos.
Esses que foram sendo esquecidos pelas idas aos hipermercados a muitos quilómetros de distância primeiro e depois praticamente abandonados quando começaram a surgir nas nossas terras os supermercados oriundos dos primeiros que, com a promessa de novidades, com o aliciamento promovido das mais variadas formas, nos levaram a abandonar quem nunca nos deixou.
Por mais campanhas de sensibilização que se tenham feito, a nível político e social, foi necessário o surgimento desta pandemia para nos recordar que afinal essas lojinhas de bairro dão jeito!
A D. Helena, O prof. Vítor, o Aníbal da Praça, o João dos “Arvelos” e todas as outras lojas e lojinhas que hoje nos servem e sempre serviram com um sorriso no rosto, não mereciam o nosso abandono, não mereciam que os tivéssemos deixado à sua sorte.
Quando tudo isto passar, e vai passar!!, quando a nossa vida retomar a normalidade, por favor vamos demonstrar a todos os que se mantiveram com a sua loja aberta, que nos salvaram em muitas situações, que nos ajudaram quando nada mais existia, a nossa gratidão. Vamos todos continuar a comprar no comércio local. Vamos todos “dizer-lhes” obrigado!
José Francisco Encarnação
Presidenta da Assembleia de Freguesia da UFAGP