Ave fantástica
Nesta reportagem fazemos uma longa e detalhada viagem pelo mundo agrícola do Campo Branco, onde a abetarda está no epicentro da mesma. Mas fomos mais longe, muito mais longe.
O mundo de Castro Verde esta umbilicalmente ligado à agricultura de sequeiro, onde gerações de homens grandes têm resistido a tudo.
Às secas, à falta de apoio por parte dos sucessivos Governos, às más negociações da PAC, a tudo isto tem sabido resistir com persistência e uma inabalável vontade de continuarem a viver no e do Campo, a sua grande Pátria.
Os agricultores têm sido os principais aliados das abetardas, nesta fabulosa odisseia que tirou uma espécie fantástica da extinção à qual estava condenada.
As abetardas continuam, agora de forma mais numerosa, a encher os eus de Castro Verde com os seus majestosos voos, graças ao trabalho fantástico, articulado entre várias entidades locais, da autarquia, à LPN, à AACB e claro, aos homens da terra.
A Abetarda é Património Natural do Concelho de Castro Verde e dos concelhos limítrofes
Ver um bando de Abetardas é tão difícil quanto deslumbrante
Caraterização
Com uma paisagem pouco acidentada, de vegetação parca, solos xistosos e terras claras, a região de Castro Verde é o coração do Campo Branco. O coberto vegetal esclerófilo, de folhagem dura, carateriza-se por manchas raras de azinheiras, alguns sobreiros e pequenas cercas de olival.
Aqui e ali, pequenas linhas de água rasgam a morfologia padronizada na planície deste concelho. Duas pendentes caracterizam a região de Castro Verde, fazendo correr as águas de Inverno para o Guadiana e para o Sado. Duas bacias hidrográficas marcadas, a primeira, pelas ribeiras de Cobres e Maria Delgada, Terges e Oeiras; a segunda, pelos barrancos da Gata, do Montinho e das Almoleias.
Os sistemas cerealíferos extensivos e as pastagens seminaturais que caracterizam o concelho de Castro Verde, têm marcado sistematicamente, e durante centenas de anos, o território natural do concelho. Padrão de ocupação do solo muito particular, terra limpa, com rotações de cereais e pousios longos. Neste habitat pseudo-estepário, adaptaram-se várias espécies de aves, hoje na sua maioria em vias de extinção.
A Abetarda, a verdadeira rainha da estepe, o Sisão, o Cortiçol de Barriga-Preta, o Penereiro-das-Torres, o Grou, o Rolieiro, a Cegonha Branca, entre muitas outras, compõem a riqueza do mosaico natural, que está momentaneamente protegido pelo Projecto Biótopo Corine.
O Plano Director Municipal de Castro Verde, publicado em 1993, consagra legalmente a interdição na área do Biótopo Corine, mais de 2/3 da área do concelho, à instalação de florestas de crescimento rápido, apontando-se para a recuperação da agricultura tradicional. Procura-se assim compatibilizar o uso da terra com a preservação da natureza, muito particularmente, da sua avifauna.
Neste contexto o Programa Zonal de Castro Verde veio consagrar apoios importantes aos agricultores que viabilizam a estratégia preconizada no P.D.M., e cujos resultados são hoje particularmente visíveis, não apenas na protecção das espécies, mas igualmente na salvaguarda dos terrenos delgados da região. Desta forma, a área do Biótopo de Castro Verde, classificada como Z.P.E., no âmbito da Directiva 79/409/CEE, integrando a Rede Natura 2000, aguarda neste momento a definição dos seus instrumentos de gestão.
A riqueza natural do concelho, em especial ao nível de avifauna, e os trabalhos de conservação desenvolvidos (Plano Zonal) tem sido apontada como exemplo a nível europeu. Também aqui a Liga Para Protecção da Natureza (LPN), tem vindo a desenvolver uma importante actividade, nomeadamente na aquisição de propriedades, que constituem reservas biológicas, e onde decorrem projectos de conservação de habitats e salvaguarda das espécies ameaçadas.
Clima
Tipicamente mediterrânico, com duas estações bem definidas:
O Inverno, frio e pouco chuvoso. E o Verão, quente e seco. A temperatura média anual ronda os 15,8 graus. Com grandes amplitudes térmicas, as temperaturas atingem máximos, no Verão, acima dos 43º, enquanto no Inverno, as mínimas, descem abaixo dos 0ºC. A Precipitação é irregular, e as secas estão a tornar-se, cíclicas.
As abetardas nidificam em sítios que lhes permitam visionar o horizonte
O que é a Zona de Protecção Especial de Castro Verde?
A Zona de Protecção Especial (ZPE) de Castro Verde, criada em 1999 e posteriormente alargada em 2008, é a área estepária mais representativa de Portugal, com 85.345 ha de área total e cerca de 60.000 ha de pseudo-estepe. Abrange território de 6 municípios: Aljustrel (19%), Almodôvar (4%), Beja (12%), Castro Verde (85%), Mértola (8%) e Ourique (3%).
A paisagem da ZPE de Castro Verde é dominada por planícies com suaves ondulações, que cobrem extensas áreas de baixa altitude (entre os 100 e os 300 m). Os vales de cursos de água e os afloramentos rochosos de quartezite marcam pontualmente a paisagem. O solo é pouco profundo, com muito pouca matéria orgânica, sendo descrito como “esquelético”.
Nesta ZPE predominam as práticas agrícolas extensivas, sendo o sistema agrícola tradicional baseado no cultivo extensivo de cereais de sequeiro num esquema de rotação com pousios, resultando num mosaico anual de searas, alqueives, restolhos e pousios. Os pousios são geralmente utilizados como pastagens para o gado ovino e bovino. Nesta ZPE existem também montados de azinho, matos e pequenos olivais.
Durante o Inverno encontram-se importantes densidades de Grous (Grus grus), Abibes (Vanellus vanellus), Tarambola-dourada (Pluvialis apricaria) e Laverca (Alauda arvensis). Há uma presença regular de aves de presa invernantes como o Milhafre-real (Milvus milvus) e o Tartaranhão-azulado (Circus cyaneus). Os pousios e pastagens são zonas importantes de alimentação para o Abutre-preto (Aegypius monachus), Grifo (Gyps fulvus), Águia-imperial (Aquila adalberti) e Águia-real (Aquila chrysaetus) (ICNB 2006)
A diversidade e abundância de aves estepárias são responsáveis pelo estatuto de protecção desta ZPE. A ZPE de Castro Verde é a área mais importante de Portugal para a conservação de aves estepárias, em particular da Abetarda (Otis tarda) e do Peneireiro-das-torres (Falco naumanni).
Mais de 80% da população nacional de Abetarda (Pinto et al. 2005) e 70% da população reprodutora de Peneireiro-das-torres (Henriques et al. 2006) estão concentradas nesta região. Esta ZPE é sem dúvida a mais importante para a conservação do Sisão durante a época reprodutora em Portugal, pois ocorre aqui mais de metade dos machos reprodutores estimados para a espécie (Silva & Pinto 2006).
Esta ZPE alberga também importantes populações de Cortiçol-de-barriga-negra (Pterocles orientalis), Calhandra-real (Melanocorypha calandra), Alcaravão (Burhinus oedicnemus) e Tartaranhão-caçador (Circus pygargus) e é ainda uma área de reprodução da Águia-de-Bonelli (Aquila fasciata) e a principal área de reprodução do Rolieiro (Coracias garrulus) em Portugal.
Liga para a Proteção da Natureza Centro Educação Ambiental do Vale Gonçalinho – Castro Verde
Centro Educação Ambiental do Vale Gonçalinho – Entradas / Castro Verde
CEAVG – Centro de Educação Ambiental do Vale Gonçalinho, situa-se numa herdade no coração da planície a cerca de 7km da Vila de Castro Verde E está aberto ao público desde 2000 .
A Herdade do Vale Gonçalinho, onde se situa o CEAVG foi adquirida em 1995 (com o apoio financei-ro do Programa LIFE da União Europeia e o apoio dos sócios da LPN), tendo-se iniciado as obras de recuperação do edifício em 1998 (financiado pelo Programa Ambiente do FEDER).
A inauguração do CEAVG decorreu em maio de 2000, tendo sido já alvo de um melhoramento adicional em 2006 (financiado pelo Programa Operacional da Região Alentejo do FEDER).
O CEAVG é um edifício autossustentável, funcionando essencialmente com recurso à microprodução de energias renováveis (solar e eólica) e ainda com tratamento de efluentes através de uma Estação de Tratamento de Águas Residuais por Plantas (ETARP) e compostagem de resíduos.
Rita Alcazar – Coordenadora em Castro Verde da Liga para a Proteção da Natureza
O Centro de Educação Ambiental para além de oferecer o apoio logistico aos vários projetos da LPN no Baixo Alentejo, recebe ainda anualmente centenas de visitantes, interessados essencialmente na avifauna estepária de Castro Verde. Além dos turistas recebe também visitas escolares, ações de voluntariado e participantes em diversas atividades promovidas pela LPN ou por outras instituições que solicitem a sua colaboração.
Além da sensibilização ambiental que faz junto dos turistas que visitam o concelho, o CEAVG tem apostado ainda na sensibilização junto dos mais novos, quer diretamente nas escolas através dos vários projetos que têm sido desenvolvidos, quer no CEAVG através de ATL’s, participação em várias atividades organizadas pela LPN ou por outras entidades e ainda ações de voluntariado promovidas pela LPN.
São milhares os amantes da natureza e das aves que visitam o Centro Educação Ambiental do Vale Gonçalinho – Entradas / Castro Verde
No entanto, o Centro de Educação Ambiental do Vale Gonçalinho está essencialmente vocacionado para a sensibilização junto do público escolar.
No CEAVG, efetuam-se visitas temáticas, que estão disponíveis para alunos dos diversos níveis de ensino (do 1º ciclo ao ensino superior).
Contactos:
Centro de Educação Ambiental do Vale Gonçalinho
Herdade do Vale Gonçalinho
Apartado 84, 7780-909 Castro Verde
Telefone/Fax: 286 328 309
E-mail: lpn.cea-castroverde@lpn.pt
Horário de Funcionamento:
Terça-feira a sábado – 9h00/13h00 e 14h00/18h00
Mais informações em www.lpn.pt ou http://programacastroverdesustentavel.blogspot.com/
Este ano há cerca de 1.200 abetardas na região de Castro Verde
Este ano há cerca de 1.200 abetardas na região de Castro Verde
Mais de 10 equipas saíram para o campo a 1 de Abril para contar abetardas, uma das maiores aves da Europa, repetindo um censo que é feito há já 20 anos. Na região de Castro Verde, que alberga 80% da população portuguesa, foram contadas cerca de 1.200 aves.
Nos campos de Castro Verde, os machos de abetarda (Otis tarda) estão em plena época de paradas nupciais. Estas demonstrações começam no final de Fevereiro e podem durar até meados de Maio, segundo o livro “Aves de Portugal – Ornitologia de Portugal Continental”.
É precisamente nesta importante época do ano que se realiza o censo populacional da espécie.
Um macho em plena exibição, qual macho alfa
“As contagens fazem-se nesta altura para tentarmos encontrar o maior número de machos em parada e de fêmeas também”, explicou à Wilder Pedro Rocha, director do Departamento de Conservação da Natureza e Florestas do Alentejo (ICNF).
O objectivo é conseguir fazer as contagens numa época de “maior visibilidade para estas espécies, nas áreas de exibição dos machos”, acrescentou.Este ano, a Zona de Protecção Especial (ZPE) de Castro Verde e algumas zonas da ZPE do Guadiana registaram cerca de 1.200 abetardas. “Ainda não temos um número definitivo mas andará por volta dos 1.200 animais, um valor que está dentro dos valores de outros anos”, salientou.
Em Portugal, a abetarda só nidifica no Alentejo. Aqui, os principais núcleos reprodutores estão nas regiões de Castro Verde (com cerca de 80% do efectivo nacional), Campo Maior e Vila Fernando (Elvas). Por enquanto, apenas são conhecidos os dados para Castro Verde, apesar de ter havido contagens em outras áreas.
Em Castro Verde, o censo é feito com a mesma metodologia há 20 anos. Este ano “foram 11 as equipas que fizeram as contagens, cada uma com uma média de três pessoas”, contou à Wilder Rita Alcazar, coordenadora da Liga para a Protecção da Natureza (LPN) em Castro Verde.
Estas 1.200 abetardas representam um aumento de indivíduos em relação aos menos de 400 registados em 1997. Ainda assim, faltam dados para fazer uma análise completa. “Precisávamos de um estudo detalhado para compreender melhor a demografia desta espécie e o que se está a passar para garantir a sua sobrevivência em Portugal, mas faltam meios”, acrescentou a responsável.
A abetarda atingiu um pico em 2009, quando foram contabilizadas 1.413 aves. “Mas nos últimos cinco anos o número tem-se mantido sempre em cerca de 1.200”, notou Rita Alcazar. Contudo, se a espécie parece estável, “há áreas onde poderá estar a diminuir”.
Nos campos de Castro Verde, os machos de abetarda (Otis tarda) estão em plena época de paradas nupciais. Estas demonstrações começam no final de Fevereiro e podem durar até meados de Maio, segundo o livro “Aves de Portugal – Ornitologia de Portugal Continental”.
De acordo com Pedro Rocha, a abetarda é uma espécie que enfrenta vários desafios. “A abetarda pertence a um grupo de aves, as aves estepárias, que devem ser dos grupos mais ameaçados no país”, salientou. Fazem parte deste grupo aves como o sisão, o cortiçol-de-barriga-negra e o peneireiro-das-torres (ou francelho). Para começar, “os sistemas agrícolas extensivos dos quais dependem estão em franco declínio”.
“Depois há a conversão dos solos agrícolas de sequeiro para regadio, a alteração para práticas mais intensivas com a tendência para a perda deste mosaico de paisagens.” E, para terminar, Pedro Rocha lembrou também a ameaça das colisões com linhas eléctricas e os obstáculos das vedações das propriedades agrícolas.
Para tornar a vida das abetardas um pouco mais fácil, a LPN tem trabalhado desde 1990 com agricultores de Castro Verde. “Começámos por adquirir alguns terrenos considerados áreas importantes de paradas nupciais para as abetardas, com a ajuda do projecto Life”, lembrou Rita Alcazar.
As Abetardas são as verdadeiras Rainhas da Planície
Os peritos da LPN trabalham ainda as questões de gestão agrícola, para promover os prados espontâneos naturais, de sequeiro, – onde as abetardas fazem ninhos e usam para se reproduzir -, zonas de cereal, que fornecem locais de reprodução e alimento (cereal e restolho, por exemplo) e pontos de água, especialmente importantes durante o Verão.
Além disso, “trabalhamos com a EDP Distribuição para minimizar as mortes por colisão com linhas eléctricas e com cabos de energia e fazemos a manutenção dos habitats”.
Segundo o livro “Aves de Portugal”, os habitats ideais para esta espécie são as planícies abertas com culturas extensivas, geralmente em solos com baixa capacidade agrícola.
Castro Verde a 11.ª Reserva da Biosfera em Portugal reconhecida pela UNESCO e a primeira a Sul do Tejo
A Reserva da Biosfera de Castro Verde está situada no coração do “Campo Branco”, nas longas e extensas planícies do Baixo Alentejo. Terra chã de relevo suave, onde a vista se perde até ao horizonte, detentora de uma grande diversidade de valores naturais e culturais, únicos e de elevado interesse à escala regional, nacional e internacional.
Estes valores resultam de uma relação Homem-Natureza milenar, cujo processo histórico de evolução da ocupação e uso do solo deu origem a um agroecossistema de elevado valor de conservação.
Atendendo à orografia suave, às caraterísticas dos solos predominantemente xistosos e delgados e ao clima tipicamente mediterrânico, a exploração da terra em Castro Verde esteve desde sempre associada à criação de gado e mais tarde ao cultivo de cereais de sequeiro. As práticas agropecuárias evoluíram para um esquema tradicional de rotação das parcelas, em que após dois anos de cultivo com cereal, as terras ficam em pousio (i.e. sem cultivo), para que recuperem a fertilidade e funcionem como prados para o gado.
Aqui, nesta vasta planície, a agricultura e a pastorícia coexistem desde há muito tempo, tendo moldado uma paisagem de rara beleza e de alto valor de conservação: as estepes cerealíferas.
Entre a biodiversidade extraordinária que aqui ocorre, sobressai uma comunidade de aves estruturada e diversificada, com cerca de 200 espécies, onde se destacam as emblemáticas aves estepárias, como a Abetarda, e as aves de rapina, como a Águia-imperial-ibérica.
Com uma área de 569,4 km2 e uma população aproximada de 7 500 habitantes distribuída em cerca de uma vintena de localidades de pequena e muito pequena dimensão, a Reserva da Biosfera de Castro Verde tem um caráter rural, que se reflete nas tradições culturais e nos costumes que, ainda hoje, estão presentes e marcam a identidade das gentes deste território.
A vasta planície de Castro Verde inclui um mosaico de sistemas ecológicos, ricos em habitats e espécies, específicos da Região Biogeográfica do Mediterrâneo. De um modo geral, o ecossistema estepário é predominante, estando presente numa grande proporção do território, sendo apenas descontinuado pelos vales das ribeiras que “rasgam”, aqui e ali, as estepes cerealíferas.
Na parte mais a sul da Reserva da Biosfera ocorrem algumas manchas de montado e de matos mais densos. Com muito pouca expressão surgem de forma pontual zonas húmidas (naturais e artificiais), povoamentos florestais de pinheiro-manso ou azinheira (puros ou mistos) e exíguas zonas de culturas permanentes (nomeadamente, manchas de olival tradicional e vinha recente), e algumas hortas familiares.
Dos habitats presentes merecem especial atenção as subestepes de gramíneas e anuais da Thero-Brachypodietea, as áreas de montados de azinho (Quercus rotundifolia) e aos charcos temporários mediterrânicos, cuja salvaguarda é prioritária para a conservação de populações de fauna e flora selvagens, em especial, do território da União Europeia.
“AACB presta grande apoio aos agricultores do Campo Branco” afirma José da Luz Pereira
Foi há 31 anos que nasceu a Associação de Agricultores do Campo Branco. Três décadas depois, o presidente (e também fundador e sócio nº 1 da instituição) considera que o balanço do trabalho feito é mais que positivo.
“Esta Associação presta um grande apoio aos nossos agricultores e esse apoio não se ficou só pelas ajudas comunitárias: temos vários serviços que são mais-valias para os nossos associados, desde a sanidade às agro-ambientais, a recepção de candidaturas ou o apoio técnico”, diz José da Luz Pereira em entrevista ao “CA”.
Depois da sua fundação, qual o maior contributo da Associação de Agricultores do Campo Branco (AACB) para a agricultura da região?
Devido à entrada de Portugal na CEE os agricultores iam receber ajudas comunitárias e, para tal, teriam de cumprir determinadas regras. E para cumprir essas regras tenham que ser apoiados por uma organização. Ora não havendo nada aqui na região do Campo Branco, no final dos anos 80 começámos a delinear criar uma organização. Este foi o principal objectivo na criação da AACB. Portanto, esta associação nasce por não haver nenhuma organização que pudesse aglutinar os agricultores para poderem ter ajudas comunitárias e tirar partido das mais-valias da nossa entrada na CEE.
Sente que AACB tem cumprido o seu papel nestes 31 anos?
Em pleno! Esta Associação presta um grande apoio aos nossos agricultores e esse apoio não se ficou só pelas ajudas comunitárias. Hoje temos vários serviços que são mais-valias para os nossos associados, desde a sanidade às agro-ambientais, a recepção de candidaturas, o apoio técnico? Temos também tido um grande trabalho na questão do abastecimento de água à pecuária da nossa zona, foram criadas imensas infra-estruturas e os agricultores por intermédio de apoios nacionais e comunitários adquiriram muitos meios de extracção de água. Hoje este é um problema que está em grande parte resolvido.
Foi um dos fundadores da Associação e é hoje o sócio nº 1. Imaginava que, 31 anos depois, a AACB seria o que é hoje?
Tínhamos noção que havia espaço para andar. E foi o que se fez! Temos estando sempre na ‘linha da frente’ na resolução de problemas.
AACB – 31 anos de existência daquela que é uma das mais reconhecidas Associações de Agricultores de Portugal
Nestes 31 anos, qual o momento mais decisivo para a AACB?
No princípio dos Anos 90 tivemos três factores que foram importantes e primordiais. Primeiro conseguimos garantir a criação do Agrupamento de Defesa Sanitária (ADS) do Campo Branco, que na altura tinha muita oposição. Mas graças ao empenhamento do engenheiro João Luís Figueira, que era à época sub-director regional de Agricultura, conseguiu-se a criação do ADS, que foi um marco importante. Depois a criação do Plano Zonal de Castro Verde, que foi a primeira medida agro-ambiental a nível da CEE em que entraram agricultores e ambientalistas. Era uma medida mal-vista na altura, inclusive pelas restantes zonas do país, por verem ligados o ambiente com a agricultura, mas hoje já há um plafond muito grande para as medidas agro-ambientais e não chega. Veja-se bem a evolução que isto teve! E aí a AACB teve um papel fundamental, porque ‘contra ventos e marés’ fez esse acordo. Ainda nos primeiros anos da Associação tivemos um problema de seca e conseguimos uma ajuda muito importante para o combater, com subvenções a fundo perdido para agricultores e produtores, além da dinamização por parte da associação de um projecto que permitiu a construção de várias infra-estruturas para captação de água e a compra de várias cisternas. Ou seja, nos primeiros cinco anos de existência da AACB foram dados passos muito importantes e decisivos para os dias de hoje.
O Plano Zonal foi criado em 1995. Foi um momento determinante para a manutenção da actividade na região?
Foi importante, foi! Na altura foi bastante significativo, porque tinha acabado o período áureo dos cereais de sequeiro e as explorações começavam a ter dificuldades financeiras. A vinda do Plano Zonal foi bastante importante e permitiu uma transição entre esse período final dos cereais de sequeiro, em que houve uma quebra grande no rendimento das explorações.
Da direita para a esquerda: Pedro do Carmo, Deputado do PS eleito por Beja; António Bota, presidente da câmara de Almodôvar; José da Luz Pereira, presidente da AAC Branco; Ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes; António José Brito, presidente da câmara de Castro Verde; Nélson Brito, presidente da câmara de Aljustrel e Marcelo Guerreiro, presidente da câmara de Ourique
Estamos em pleno processo de negociação da PAC pós-2020. Que futuro perspectiva para o Plano Zonal?
Estou convencido que o Plano Zonal e as agro-ambientais na generalidade vão continuar. Com cada vez mais zonas com explorações intensivas, é necessário existirem zonas natu-rais que possam permitir alguma ‘respiração’, digamos assim. E então acho que estas regiões que não têm a possibilidade de ter a médio-prazo regadio têm de ser apoiadas, por-que senão a desertificação humana ? que já tem aqui algum relevo ? vai acentuar-se muito seriamente.
Ser agricultor no Campo Branco ainda é uma actividade rentável?
É muito difícil, pois como em tudo na vida houve um aumento considerável dos custos dos factores de produção. É certo que nestes últimos anos os preços dos animais [para abate] têm tido alguma estabilidade, mas de qualquer maneira os preços ainda estão baixos tendo em conta os custos dos factores de produção. E hoje praticamente ninguém faz cereais para comercializar, apenas para consumo próprio das explorações. Porque estar a fazer cereais para vender é inviável! Este ano agrícola, mais do que nunca, está a sentir-se isso: as explorações de grande área estão a reduzir drasticamente a produção de cereais.
A Agricultura é a par da extração mineira a atividade mais identificativa da história dos concelhos do Campo Branco
Já afirmou, em diversas ocasiões anteriores, que o envelhecimento dos agricultores e produtores é o maior problema do sector nesta região do Campo Branco. Os últimos tempos não têm trazido uma inversão desse quadro?
Neste momento nota-se mais gente nova a ficar na agricultura, mas ainda há muitas explo-rações em que não há quem continue o trabalho. Daí uma grande preocupação da nossa parte. Tem de aparecer gente nova para continuar a fazer agricultura.
Trinta e um ano depois, que desafios se colocam à AACB?
A AACB está na chamada ‘velocidade de cruzeiro’, ou seja, estamos a fazer aquilo que podemos fazer. E se continuarmos a prestar toda esta colaboração e serviços aos nossos associados já é muito bom, quer no apoio técnico às candidaturas, na prestação de serviços de sanidade animal e profilaxia.
Tudo isso é essencial para a vida dos agricultores. É o que estamos a fazer e é o que vamos continuar a fazer! O que não quer dizer que não possa surgir qualquer novo projecto para servir para a região. E vamos continuar a fazer valer os nossos direitos junto do Ministério [da Agricultura], porque não podemos ser abandonados.
• Entrevista do presidente da Associação de Agricultores do Campo Branco ao Jornal Correio Alentejo
Carnes do Campo Branco
Agrupamento de Produtores Pecuários, S.A.
Sobre Nós
O Agrupamento foi constituído no início de 2003, tendo como princípio assegurar as melhores condições para o desenvolvimento da rentabilidade das explorações agrícolas dos seus accionistas, visando em particular promover a concentração da oferta, a venda e a regularização dos preços dos efectivos pecuários. Tem como propósito o acompanhamento em permanência das explorações dos accionistas, fornecimento de aconselhamento técnico e controlo das condições do efectivo, assim como do acompanhamento da cadeia de produção, abate e comercialização.
Tel – 286 322 251
carnescampobranco@gmail.com
O Presidente do Agrupamento, António Lopes Inácio, formula os Votos de um Santo Natal e um Próspero Ano Novo
Associação de Criadores do Porco Alentejano – Ourique
Sede da ACPA – Ourique
Nuno Faustino – Presidente da Associação de Criadores do Porco Alentejano – Ourique
A Associação de Agricultores do Campo Branco deseja a todos os seus associados, amigos, familiares e todo o mundo um Santo Natal e um Ano 2021 cheio de realizações pessoais e profissionais, e muita saúde.
O presidente da Direção da A. A. C. Branco – José da Luz Pereira
Redação : Agradecemos a quem nos ajudou a elaborar esta reportagem, não só pela facultação de informações preciosas, bem como, pelo incentivo que nos foi dado para que avancemos com mais reportagens desta natureza, para que os nossos leitores percebam os muitos mundos, alguns deles à qual a Comunicação Social não dá relevo nenhum, que formatam o imenso mosaico que é a nossa Sub-Região do Campo Branco que engloba os concelhos de Castro Verde. Almodôvar, Ourique, Aljustrel e Mértola.
Muito obrigado
Um Santo Natal e um Brilhante ano de 2021