Atualmente assistimos a uma nova vida na Somincor, ou como todos nós nos habituámos, na mina. Com as obras para a implementação do ZEP, ou seja, com a expansão de infraestruturas, à superficie e no subsolo, de forma a permitir um aumento de produção dos concentrados de Zinco, a atividade é intensa. São muitos postos de trabalho criados, uns a termo certo enquanto durar a implementação do projeto, e outros sem termo pois será necessário mais mão de obra para manter todas as novas instalações a funcionar.

Todas as localidades ao redor da mina já notam esta nova dinâmica, este aumento de pessoas, veículos e, logicamente uma aumento no consumo, quer nos restaurantes, nas habitações, etc. Boas notícias. Muito boas notícias. Porque enquanto decorrerem as obras, muita gente se deslocará para a zona adjacente à mina, os preços dos bens de consumo até podem inflacionar um pouco que o seu escoamento estará assegurado.

Boas noticias também para os locais, e quando se fala de locais, fala-se das populações abrangidas pela mina, nomeadamente nos concelhos de Castro Verde, Almodôvar, Aljustrel, Ourique e Mértola, pois será nesta área que será recrutada a mão de obra necessária para que, depois de instalado o projeto, seja possível o seu funcionamento e, desejamos todos nós, o seu sucesso. Só boas notícias? Bem… nem todas…

Todos nós sabemos que a principal empregadora dos concelhos referidos é a Somincor, sendo inclusive a maior empregadora do distrito no que concerne a empresas não publicas. Com a implantação deste projeto e necessário aumento de produção, perfeitamente compreensivel, pois com a escassez de concentrados de cobre, mais valiosos, para ser viavel terão que se produzir mais concentrados de zinco, menos rentaveis no mercado. Com um aumento de produção iremos assistir obrigatoriamente a um decréscimo da vida útil da mina, pois como todos sabemos a atividade mineira é finita, dura enquanto os recursos existirem ou enquanto a sua extração for rentável. E aí chegamos à expressão que dá titulo a esta crónica… E DEPOIS DA MINA?
Estará a nossa comunidade preparada para o encerramento de uma empresa que é só pura e simplesmente o ganha pão da esmagadora maioria das famílias da nossa região? Estará o nosso comércio preparado para as quebras profundas que irão existir no consumo no futuro? Estarão os nossos municípios preparados para enfrentar os tempos difíceis que se avizinham, esperemos que num futuro longínquo? Perguntas que urgem respostas de forma rápida e capazes de responder ao que virá.

Provavelmente iremos assistir a um êxodo da população ativa, principalmente dos mais jovens pois o mercado de trabalho diminuirá drasticamente. Todos os concelhos referenciados ficarão com uma população envelhecida, logo, menos capaz de tomar iniciativa e inovar. O comércio local irá sentir uma redução drástica sobre o consumo e irá circular muito menos dinheiro, logo a economia irá sofrer uma recessão.

E os municípios? Bem, os municípios irão ficar, como se costuma dizer, com a batata quente nas mãos. Apesar de todos os investimentos que estão a ser feitos por parte das autarquias a pensar nesse cenenário, e não são assim tão poucos, falo com conhecimento de causa, serão os necessários para aguentarem o embate que as populações irão sofrer? A diversificação de investimentos que os autarcas estão a tentar implementar, apesar de avultados, serão capazes de esbater o impacto que toda o sociedade irá sofrer?

Perguntas de respostas difíceis e complicadas e que o futuro poderá responder. Mas de uma coisa devemos ter a certeza: está mais que na hora de pensar seriamente num futuro sem a Somincor, sem a mina. Futuro longínquos todos o desejamos mas inapelavelmente irá ser uma realidade.

José Francisco Encarnação
Presidente da Assembleia de Freguesia da União das Freguesias de Almodôvar e Graça dos Padrões